“Tive fome e não me destes de comer” (Mateus 25:42)
Entendo que o melhor critério para avaliar um governo é a situação dos envolvidos na pior condição de miséria da população, que é a fome, tendo a ver com as condições sociais, dentre elas o desemprego, o baixo salário e a miséria. O sistema capitalista é tão cruel, que não há como essas pessoas famintas controlarem esta condição, a não ser ficar nas esquinas pedindo, disputando ossos ou revirando os lixões à busca de alimentos vencidos ou deteriorados para si e sua família.
No último sábado (17) o MLB-Movimento de Luta nos Bairros, organizado nacionalmente principalmente no Nordeste, invadiu um supermercado em Recife com dezenas de famintos, para reivindicar a doação de cestas básicas para o “Natal Sem Fome”. “Uma parte da humanidade não come, e a outra não dorme com medo da que não come”, frase do médico nutrólogo Josué Apolônio de Castro, falecido em 1973.
Penso que o problema da fome não está apenas nas pessoas e, sim, no sistema, na forma de organização social e no processo decisório que impera na sociedade. Os seres humanos, principalmente os governantes, estão destruindo o planeta em proveito de uma minoria, enquanto o sistema financeiro mundial contribui para eles ficarem cada vez mais milionários.
Conversando com um amigo de muitos anos, ouvi ele dizer que todos os políticos são desonestos, ladrões. Quando lhe perguntei se anulou seu voto, não me respondeu. Eu sempre notei que ele sempre concordara com a visão ideológica dos políticos conservadores de direita, principalmente pelo presidente Bolsonaro.
A certa altura, ele chegou a dizer que durante o governo Bolsonaro diminuíram os assaltos a bancos. Quando eu listei as ações da quadrilha “Novo Cangaço” em várias cidades do país, inclusive em Araraquara e Araçatuba, ele voltou atrás e reconheceu o equívoco.
Quando uma pessoa é chamada a opinar sobre alternativas para acabar com as exclusões sociais, é normal responder sobre a construção de uma sociedade mais justa e esclarecida. A maioria quer uma sociedade mais democrática sem, no entanto, conseguir formular alternativas para conquistar a democracia econômica.
A democracia econômica tem a ver com a democratização da apropriação da riqueza que nos foi deixada por Deus. Em meio à tanta riqueza, que se busque uma saída para distribuir renda para os que necessitam dela para sobreviver. Afinal, não há ciência, não há religião, não há ética que justifique ver alguém com fome.
A Folha de São Paulo do último dia 17 (página A15) traz uma matéria da jornalista Idiana Tomazelli, citando relatório do Tesouro Nacional que alerta que a aprovação da PEC — que denominaram de “PEC da Gastança” — pedida pelo próximo governo Lula para resolver o problema da fome, resultará no aumento do endividamento do país.
Em nenhum momento o relatório aponta a possibilidade do fim da renúncia fiscal (renúncia ao recebimento de tributos) que favorece ricos e suas empresas. Somente neste ano de 2022, o valor deverá atingir R$ 456 bilhões. Não aponta também o absurdo da alta taxa de juros, resultando no pagamento de juros no montante de R$ 500 bilhões no mesmo período.
Vejam que se o governo Lula, no ano de 2023, reduzir as taxas de juros, suspender o pagamento de 30% desses juros sobre dívidas públicas; reduzir somente 20% do valor da renúncia fiscal, será possível ter disponibilidade financeira no montante de mais de R$ 200 bilhões, o suficiente para atender em 2023 às necessidades vitais da população pobre no Brasil.
Entendo que luta do MLB-Movimento de Luta nos Bairros é justa, e tende a aumentar, pois é inaceitável qualquer ser humano passar fome, principalmente neste Natal.
(*) Walter Miranda, graduado em Economia e Contabilidade; mestrado em Ciências Contábeis pela PUC/SP; pós-graduado em Gestão Pública pela UNESP/Araraquara, militante do PSTU e da CSP-CONLUTAS Central Sindical e Popular.
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