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Por que o mercado, nos últimos anos, não ficou nervoso?

Por Walter Miranda

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O cidadão comum, não familiarizado com o cotidiano das regras políticas naturais da economia política, não consegue entender quando o tal mercado fica nervoso.

Os mais dedicados economistas e estudantes do curso de Economia, familiarizados com os princípios básicos da teoria econômica, macro e microeconomia, história econômica geral e desenvolvimento econômico, estão capacitados para analisar a conjuntura atual neste Brasil capitalista.

Nos anos 80/90 lecionei contabilidade em algumas universidades em São Paulo e Jundiaí, nos cursos de Ciências Contábil e Econômica. As aulas no curso de Economia eram focadas mais nas análises dos relatórios contábeis e financeiros de empresas e órgãos públicos, importantes para avaliar a saúde financeira do país.

Acabamos de sair de uma eleição polarizada, e estamos findando um governo economicamente liberal e neoliberal. Estou preocupado com a gestão do futuro governo que, pelas alianças políticas, será também liberal. Os acordos, como os realizados com o Arthur Lira, um dos líderes do Centrão, que tem apoio dos 400, dentre os 513 futuros deputados, para a sua reeleição à presidência da Câmara, me preocupa. Penso que o governo Lula prepara a sua cova, passando a refém desse pessoal para garantir a tal governabilidade. Este filme é conhecido e o fim pode ser triste.

O mercado fica muito nervoso quando Lula afirma que o governo dele será voltado para resolver as questões sociais que afetam a classe trabalhadora pobre e miserável. Estudos e pesquisas indicam que a maioria das pessoas das camadas mais pobres da sociedade tomaram empréstimos bancários e boa parte está inadimplente.

Quando questionados sobre por que contraíram um empréstimo, em torno de 50% dos mais pobres indicam que foi para pagar contas atrasadas e comprar alimentação. Por outro lado, acabei de ver o último Fantástico/Globo no dia 04/12, e fiquei chocado com reportagem mostrando que em São Paulo existem 1.400 prédios abandonados, e milhares de famílias na capital e em todo país sem habitação.

Com a preocupação acima e outras, como saúde, educação, o futuro governo Lula corretamente procura obter dotações orçamentárias para em 2023 iniciar a luta para cumprir as promessas de campanha voltadas para a responsabilidade social ‒ a meu ver, mais importante que a responsabilidade fiscal na atual conjuntura social e econômica.

Na verdade, sempre ficou evidente que o mercado financeiro nunca esteve interessado na responsabilidade social.  Ele quer que seja mantido o denominado “superávit fiscal”, que é o resultado positivo das receitas públicas sobre as despesas, desconsiderando os gastos com juros. Assim, na prática, o mercado financeiro fica calmo quando o Estado paga corretamente os juros devidos a ele.

Neste ano de 2022, o atual governo Bolsonaro, para garantir a sua reeleição, meteu o pé no acelerador, gastando sem a menor preocupação com a responsabilidade fiscal. Com o orçamento de 2023 subavaliado, faltarão recursos para a merenda escolar, Farmácia Popular, creches, saúde, educação, etc. ‒ algo em torno de R$ 200 bilhões. Somente com o denominado orçamento secreto, o governo Bolsonaro gastou R$ 62,7 bilhões no período de 2019 a 2022 ‒ e querem R$ 19,4 bilhões para 2023.

Assim, fica a pergunta que precisa ser respondida: Diante da gastança acima nos últimos quatro anos, por que o mercado não ficou nervoso?

(*) Walter Miranda, graduado em Economia e Contabilidade; mestrado em Ciências Contábeis pela PUC/SP; pós-graduado em Gestão Pública pela UNESP/Araraquara, militante do PSTU e da CSP-CONLUTAS Central Sindical e Popular.

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