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Por que o preço dos combustíveis é alto no Brasil?

Por Walter Miranda

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Fui abordado por um amigo que pediu a minha opinião sobre os preços da gasolina na Argentina, Bolívia e no Paraguai serem menores que o preço no Brasil. Afirmou que esteve na Bolívia e pagou R$ 3,24 pelo litro. Como não havia tempo para um bom diálogo sobre um assunto complexo e polêmico, resolvi escrever este artigo e compartilhar também com ele.

Não tem como não envolver a Petrobrás na política, a meu ver equivocada, para a produção e comercialização dos combustíveis, que iniciou no governo Michel Temer e está sendo mantida pelo atual governo Bolsonaro. Preliminarmente é preciso entender que o objetivo principal é usar a estatal Petrobrás para atrair recursos financeiras (dólar e real) mediante vendas de ações da estatal aos investidores no Brasil e exterior.

É preciso entender que o “lobby” do mercado, formado por especuladores, interesses de grandes grupos financeiros e econômicos, integrados por ricos investidores, sobrepondo os interesses da população. São acionistas, nacionais e estrangeiros, que especulam no mercado de um bem essencial para a sociedade, que é o combustível.

Para atrair compradores das ações, é muito importante que a Petrobrás tenha boas receitas com os preços dos combustíveis atrelados aos preços do barril de petróleo no exterior. Com a disparada no preço do barril de petróleo, e a desvalorização do real em decorrência da alta do dólar que no ano de 2021 foi cotado em média a R$ 5,70, a  Petrobrás e seus acionistas ficaram felizes.

Reafirmo que a política de preços da Petrobrás não se volta para produzir combustíveis a preços mais baratos para os consumidores, mas para gerar ótimos lucros para a Petrobrás. Mais lucro significa mais dividendos para os acionistas. No ano de 2021 o lucro líquido da Petrobrás atingiu o recorde de 106,6 bilhões de reais.

Nos países citados pelo meu amigo os preços dos combustíveis não seguem o PPI-Preço por Paridade de Importação, como acontece no Brasil. Em janeiro de 2019, início do governo Bolsonaro, o preço do barril de petróleo cru era US$ 59,27. No dia 04/04/2022 o preço superou US$ 107, aumento de 80,5% para uma inflação acumulada no mesmo período de 22,41%

O triste é que as famílias estão pagando o absurdo de preço do gás de cozinha, em média, de mais de R$ 150,00 em algumas cidades do Brasil, quando em janeiro de 2019 o preço era, em média, R$ 63,00 (aumento de 138%). O preço médio da gasolina em janeiro de 2019 era R$ 4,26, e atualmente é R$ 7,26 (aumento de 70,4%).

Antes do governo Temer a Petrobrás administrava os preços da produção de petróleo no nosso país considerando os seus custos efetivos em real, atendendo os interesses e as necessidades do Brasil, sem resultar nos aumentos dos preços dos combustíveis, contaminando a inflação nos preços dos bens, principalmente da alimentação.

Se Bolsonaro e Paulo Guedes efetuarem o que eles têm sinalizado, ou seja a privatização da Petrobras, aí fica irreversível. Se uma empresa estrangeira se instalar aqui para produzir e fornecer combustíveis, considerando o câmbio, não vai aceitar outro preço que não seja o preço internacional. Se isso não ocorrer ela poderá exportar, aumentando os preços no Brasil.

É sabido que as refinarias de gasolina, óleo e gás têm capacidade limitada. Isso porque nos últimos anos os governos Michel Temer e Bolsonaro não têm investido nas construções dessas refinarias. Se houvesse interesse político seria perfeitamente possível que o Brasil tivesse investido nas construções de refinarias, como vinha fazendo antes do “impeachment” da ex-presidenta Dilma Rousseff.

Espero que neste artigo, que será publicado por alguns jornais do interior do Estado de São Paulo, eu tenha contribuído para esclarecer meu amigo e os leitores, sobre os motivos dos preços dos combustíveis serem tão altos no Brasil.

*Walter Miranda, Vice-presidente do Sindifisco Nacional-Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil/Delegacia Sindical de Araraquara, Diretor do SINSPREV-Sindicato dos Trabalhadores Públicos em Saúde e Previdência do Estado de S. Paulo, militante da CSP CONLUTAS-Central Sindical e Popular

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