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Avenida Sete de Setembro e sua história ligada à Independência do Brasil

Talvez seja a Sete de Setembro hoje, a avenida que passou por maior número de transformações na história da cidade. Sua convivência de moradores e comerciantes hoje sinaliza para uma economia saudável envolta pela gastronomia e eletro-mecânica, pontuada ainda por lojas de confecções, calçados e as novidades trazidas pelos novos costumes. Ela porém não perdeu sua tradição.

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Casa Grande uma das tradições da cidade, na Avenida Sete de Setembro, quando o comércio do Carmo estava em formação

Instalada desde a Via Expressa, região central da cidade, até o começo da Presidente Vargas onde tem inicio o Bairro do Quitandinha, a Avenida Sete de Setembro é o único viés público presente na história da cidade e que deveria ser reverenciado pelo município nos 200 anos da Independência do Brasil. Longe das comemorações, ainda há nesta via pública uma mistura envolvendo suas tradições e a modernidade que foi se acentuando por conta da economia.

A nossa Sete de Setembro atravessa bairros importantes da cidade, bem como regiões significativas na história de Araraquara como centro, Carmo e São José, dando acesso ao Quitandinha. Nessa região vivem aproximadamente 60 mil pessoas acostumadas ao desenvolvimento vagaroso até os anos 70 e acelerado por várias etapas em função da transformação comercial.

Um dos trechos da avenida que nasce na Via Expressa

As pessoas que acompanharam a formação do bairro comentam que a visão era só uma: mato. Ao longe, dizem que era possível avistar uma igrejinha, aquela que mais tarde se transformaria na Igreja do Carmo, um dos seus principais símbolos, ainda que não havia carros e o meio de transporte utilizado era mesmo as velhas e boas carroças. Elas, um pouco mais tarde, foram substituídas por charretes. O problema é que eram apenas duas e era comum uma pessoa ficar duas ou três horas esperando no ponto.

A matriz de Nossa Senhora do Carmo, até 1943, era apenas uma capelinha, rodeada de mato, onde somente um trecho da Avenida Sete de Setembro servia de acesso. Mesmo assim, a festa característica do bairro, já surgia timidamente como quermesses, onde apenas se comercializava alimentação.

CARMO UM COMÉRCIO FORTE

Os moradores do Carmo, onde está a Avenida Sete de Setembro em seu trecho mais pomposo, orgulham-se e muito das maravilhas arquitetônicas ali implantadas, caso do prédio do Fórum que foi transferido do centro da cidade, do Senac e do Clube Araraquarense, que saíram da região central e escolheram a periferia para se instalarem.

Indicação na Avenida Sete de Setembro para a Praça da Independência, cerca de 100 metros. Imagem desta manhã de chuva em Araraquara.

Antigamente o Carmo tornara-se notícia pelos inúmeros craques que ensaiavam os primeiros passos em campos de futebol, usando para isso o espaço onde ficavam os “rapadões” da Portuguesa e do Paulista. Mas era a Sete de Setembro que abrigava as reuniões ou encontros esportivos nos famosos bares dos tempos românticos. Teve também uma das primeiras churrascarias, o Manda Brasa e uma concorrida pizzaria, o Bom Petisco na esquina da praça, costumeiro ponto das reuniões políticas. Era ali que os vereadores – adversários ou não, às segundas-feiras discutiam os rumos da cidade.

Neste processo de transformação do bairro o campo da Portuguesa deu lugar ao Clube Araraquarense e do Paulista ao Fórum, encerando a permanência de alguns craques, enquanto outros fixavam em locais mais periféricos.

A Praça da Independência ou Jardim Público como é costumeiramente chamado

Mas o Clube Araraquarense ao ocupar o espaço da “Portuguesa”, propiciou que Araraquara não apenas ganhasse uma sede oficial das mais grandiosas festas esportivas e sociais, merecendo a citação e destaque de todos aqueles que visitavam, mas que principalmente investisse no esporte. Nos anos 60, o Clube Araraquarense, investia maciçamente no esporte concentrando em suas escolhas inúmeras crianças que dariam ainda muitas alegrias para a torcida da cidade.

Mas não ficava apenas nas Escolinhas a participação do Clube Araraquarense nos diversos esportes, pois as equipes juvenis e adultas representavam Araraquara nas mais diversas competições, levando o nome da cidade, honrando principalmente este nome, e contribuindo com suas vitórias para que a desempenho acontecesse em qualquer campo.

O Fórum tomou o lugar do campo do Paulista, celeiro de muitos craques, mas forçou que o próprio bairro tivesse outros contornos sociais. Princípios de favelas foram colocados abaixo, não de forma violenta, mas a própria estrutura que cercaria o Fórum assim contribuiu.

Forum saiu do centro veio para a periferia, onde era o antigo campo do Paulista

Fenômeno bastante comum é a transferência da periferia. Isto sucede de forma dinâmica e pode ser observada até com simpatia pela comunidade, pois o progresso de uma cidade deve ser uma constante.

Este fenômeno social pode ser perceptível em vários bairros, onde o progresso instalou-se. Aconteceu no Santana, com a abertura de novas e modernas ruas e a construção da praça. Aconteceu nos Altos da Vila, com a instalação da Companhia de Polícia e abertura de novas ruas, assim como aconteceu com a pavimentação das ruas do Jardim Universal e no próprio Carmo.

Queiram ou não os tradicionalistas, antigamente, após o cemitério, proliferavam barracos, que, queiram ou não, alguns senão maioria, também habitados pela bandidagem que foi saindo de cena, indo para outros lugares.

Senac ajudou na construção do bairro

A existência de um prostíbulo, o Limoeiro, cerca de 400 metros da Avenida Sete de Setembro influenciava também na própria valorização imobiliária. Veio o progresso e desenvolvimento e com isso também os próprios imóveis foram valorizados, não apenas por força da pacificação do local, outrora turbulento, mas também em razão de que novas residências foram edificadas, desde obras modernas, em substituição aos barracos, e inclusive moderníssimos prédios, direcionando um novo visual.

O Carmo então prosperou, com ruas e avenidas modernas por onde o trânsito pode escoar, e com isso um comércio pujante passou a abrigar-se no bairro. Colaborou também para o novo visual da região compreendida logo após o cemitério de são Bento, a construção do Senac, que abriga não apenas a juventude em busca do saber, e da especialização, mas também do pessoal amigo da “3ª idade”, que ali se reúne várias vezes, em palestras e reuniões.

Cine Coral, hoje de portas fechadas faz parte de um tempo de saudades na Avenida Sete

A Avenida Sete de Setembro foi o caminho desta mudança e desenvolvimento econômico; ela foi o berço do comércio em todo o bairro, e muitos ainda guardam na memória o comércio que ali se instalou no início. Lembram eles que era comum os pequenos sitiantes, e as pessoas do campo, ao aportarem em Araraquara dirigirem-se até a Avenida Sete de Setembro.

Para a Avenida Sete de Setembro era direcionado um comércio destinado ao homem do campo, principalmente selarias como a Casa Biancardi que resiste ao tempo como loja específica para o setor. Além disso, vendas, empórios, armazéns e mercados passaram a se instalar no bairro com o tempo, pois sabiam que tinham um público especifico: o agricultor.

Era o homem do campo que chegava ciente que ali encontraria principalmente o respeito dos comerciantes. Era a Meca para aonde se dirigia o homem do campo.

Mas com o tempo aperceberam-se os comerciantes que a evolução levava ao homem de campo a mais consumir, e o consumo direto abrangia principalmente os filhos, mais exigentes.
A transformação do comércio na Sete de Setembro então aconteceu, mantendo em alguns pontos a tradição comercial.

O ônibus elétrico chegando ao bairro como o primeiro meio de transporte coletivo da comunidade no fim dos anos 50

Neste processo de mudanças e o comércio acelerado na venda de carros, aumentando o tráfego nas vias públicas passou a exigir outra alteração em seus hábitos. A Sete de Setembro, cultuada por muitos, se tornou objeto de discussão quanto à mão única, que chegou nos anos 70, pois o progresso e desenvolvimento do bairro dependiam do encaminhamento do trânsito em sentido único para a Washington Luís, que anos antes havia passado pelo processo de duplicação da rodovia.

Foi desta forma que antigas famílias como Lima, Bersanetti, Segnini, Bombarda, Sônego, Prada, Pastre, Carmona, Piquera, Merlos, Gaudiosi e Ópice viram a Sete de Setembro se transformar com a chegada do transporte coletivo através do ônibus elétrico em 1960, dando voz a Praça do Carmo e ao bairro uma associação de moradores, a primeira no município: Associação dos Amigos do Bairro do Carmo, quando da instalação da primeira agência Bancária no bairro: Banco Novo Mundo. A estratégia do gerente José Carlos da Rocha Barros, pai do hoje empresário Carlos Eustáquio da Rocha Barros (Coalhada Veículos) era levar avante a sociedade para criar uma carteira de clientes. Não bastante, ele também criou o primeiro grupo de escoteiros em Araraquara.

Igreja do Carmo em 1938, hoje totalmente revitalizada

O ponto de encontro dos jovens era a Praça da Capela de Nossa Senhora do Carmo, que foi construída em 1897, a partir da iniciativa do engenheiro Belarmino Grossi, com ajuda de moradores do bairro e de outras regiões da cidade. Anos depois foi construído pela comunidade o salão de festas da igreja, conhecido pelo apelido de Encontrão. O apelido viria dos bailes que eram cenários de vários encontros que viraram casamentos.

Um dos primeiros estabelecimentos comerciais do Carmo foi um posto de gasolina na Avenida Sete de Setembro, cujo proprietário era pertencente a Família Placco. Uma explosão acabou por destruir o local matando varias pessoas e entre elas o proprietário. Anos depois o posto foi reconstruído por outra família.

Benfica, time do Carmo e convivência plena com a Avenida Sete. Nas formações tradicionais do Benfica alguns nomes aparecem de maneira mais constante como: Pança, Paulo Preto, Falcoski, Coca Ferraz, Arthur, Lemão, Roberto Salami e Paraguaio

Há quem se lembre da primeira oficina mecânica de Antonio Caíres; o primeiro armazém da Família Colombo; o primeiro bar de Dimas Fattori que também era dono de uma fabrica de sabão – onde hoje funciona a padaria dos Irmãos Lima. Também a família Affonso teve grande importância ao construir o único cinema de bairro da cidade, o hoje desativado Cine Coral.

A Avenida Sete de Setembro marcada pelas comemorações da Independência do Brasil é o retrato de um dos mais importantes corredores comerciais da cidade, envolvendo diretamente famílias e pessoas que devem ser reverenciadas pela história de trabalho e luta da sua gente.