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Carnesecca Neto está em Buenos Aires, a cidade dos livros

Domingos Carnesecca Neto visita a Feira do Livro em Buenos Aires e apresenta texto especial para o RCIA, focando a cultura argentina e a carência de eventos semelhantes em nosso país.

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O stand do Brasil divulgando obras dos nossos escritores

Caminho por Buenos Aires, por suas ruas e avenidas, charmosas que não mais escondem os sinais das crises.

Aqui já estive meia dúzia de vezes, e sempre saio daqui pensando em retornar e aproveitar um pouco mais da elegância portenha. Crises e mais crises, políticas e econômicas, afetaram a Argentina desde sempre, mas Buenos Aires está de pé, mesmo cansada, resiste.

Desta vez o que me trouxe aqui foi a Feira Internacional do Livro, um mega evento na sua 46ª edição, numa cidade que chama a atenção pelas quantidades de livrarias, bancas de jornal, bibliotecas, cinemas, teatros, museus e centros culturais. Aqui se respira cultura para todos os gostos.

Livros editados por escritores italianos

Essa Feira é realizada anualmente nas instalações da Sociedade Rural Argentina – La Rural, um espaço enorme, que de alguma maneira lembra o CEAR de Araraquara, o Parque da Água Branca em São Paulo, e o Parque do Zebu em Uberaba/MG, tudo junto e misturado.  Localizado no bairro de Palermo, numa área nobre da cidade, é grande o suficiente para acomodar muito bem a Feira que tem mil e quinhentos expositores, de quarenta países,  e previsão de atrair um milhão de visitantes e doze mil profissionais do mercado editorial latino americano.

A ampla programação, que preenche os 45 mil metros quadrados do espaço, tem conferências, lançamento de livros, cursos, bate-papos com autores, sessões de autógrafos, festival de poesias, encontro de contadores de estórias e histórias e jornada de micro ficção, tudo para agradar e entreter os leitores.

Eu me sinto extremamente feliz em estar aqui

Com ingressos custando de R$ 15 à R$ 25, de acordo com a cotação do câmbio oficial entre o real e o peso argentino, os leitores que comparecerem à feira poderão utilizar os ingressos como vales para a compra de livros, estimulando ainda mais a presença. Já os profissionais livreiros, que aqui fazem suas compras, têm o frete grátis, patrocinado pelo Correio argentino, e assim as enviam para as suas lojas espalhadas por todo o país. Surpreendia a fila no despacho do Correio dentro da Feira.

Iniciada em 1975, ao longo destes anos todos se consolidou com a presença de diversos escritores de todo o mundo. José Saramago, Jorge Amado, Paul Auster, Susan Sontag, Doris Lessing, José Mauro de Vasconcelos, Eduardo Galeano e muitos outros, internacionalmente famosos, aqui compareceram.

A cidade vibra com a Feira e os empresários locais agradecem os resultados para a economia local.

Organização impecável

Os pavilhões, bem estruturados, com renovação de ar, carpetes no piso e stands bem montados, reúnem não só argentinos, mas também pessoas de outros países de língua española, ou castelhana como seria mais correto dizer.

Chama a atenção a pequena presença do Brasil, suas editoras e seus escritores, que muito teriam a ganhar colocando no mercado hispânico suas obras traduzidas. É algo aquém da importância cultural e econômica do Brasil.

Todos os gêneros literários estão aqui representados, com stands que vão do Exército Argentino  até de editoras comunistas, numa demonstração de que idéias podem circular democraticamente. Algumas editoras são especializadas em HQ´s – histórias em quadrinhos, outras na literatura LGBT, outras ainda em futebol, algumas em historia e, assim por diante, sem faltar nenhum segmento de interesse dos leitores.

Olhando com nossos olhos, de brasileiros que moram em Araraquara, imaginamos no que o CEAR poderia se transformar, e isto poderia acontecer se prosperarem as negociações para a concessão do espaço para uma grande empresa do ramo dos eventos. E, também,  como o Brasil seria diferente se mais leitores, e conseqüentemente mais editoras, livrarias e bancas de jornal tivéssemos.

Inclusive a convivência entre ideias contrárias poderia ser mais pacífica entre os brasileiros.

Não custa sonhar e aqui em Buenos Aires não faltam lugares para comer, beber e conversar, sonhando acordado. Bares, restaurantes e cafés estão espalhados por toda a cidade e a segurança que se tem por aqui permite que as pessoas circulem, nos transportes coletivos e nas ruas, dia e noite.

E, a tal crise que vive a Argentina, mesmo que existente e real, não atrapalha este modo de vida, mas isto é tema para o próximo texto.

Por Carnesecca Neto, especial RCIA ARARAQUARA