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Mazzaropi, o primeiro chute em 1980 para tornar Araraquara a Capital do Futebol Feminino

1980. O Fordinho 4000, dirigido por Segundo Zachi rasgava a Rua Dois levando em sua carroceria umas 20 mulheres que saiam pela região para jogar futebol. Até a mulher de Mazzaropi entrava em campo. Ele, caboclo arretado, introduzia assim essa modalidade na cidade e as vésperas da estreia do Brasil na Copa do Mundo fica a saudade de um tempo romântico do Esporte Clube Mazzaropi.

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O primeiro time de futebol feminino foi criado na cidade por Segundo Zachi, o Mazzaropi em 1980

Em 1976, Segundo Zachi chegou a nossa cidade como caminhoneiro para transportar óleo. Já tinha o apelido de Mazzaropi; dois anos depois inaugurou a borracharia na Via Expressa e a festa teve até a presença do prefeito Waldemar de Santi. Foi dono do primeiro time de futebol feminino da cidade em 1980.

Segundo Zachi, o Mazzaropi, trouxe alegrias para a cidade e revolucionou o comércio da Via Expressa. Natural de Novo Horizonte, Zachi começou como dono de quitanda em sua terra natal. Depois virou caminhoneiro e começou a viajar por diversas cidades.

Mazzaropi participando de desfile de carnaval na cidade com seu jeito folclórico

A cada parada em postos ou restaurantes, começava a brincar com o pessoal imitando o Mazzaropi. “Ele dizia pra gente que imitava o Mazzaropi para conseguir almoço de graça. Não que ele necessitasse, mas seria economia para ele”, conta o filho Fábio Zachi, entrevistado pela Revista Comércio, Indústria e Agronegócio em abril de 2015. Mazzaropi acabara de falecer.

Segundo Zachi, seu nome na realidade, até brincava com as pessoas que iam a borracharia na Via Expressa que estava começando a ficar emergente no cenário econômico da cidade. Sorrindo ele dizia em relação ao seu nome: “Jamais serei o primeiro, sempre vou ser chamado de Segundo”.

A borracharia Mazzaropi transformada em um auto center

Mas, por ironia do destino, 43 anos depois, Mazzaropi é de fato e de direito o “primeiro” dono de um time de futebol feminino em Araraquara, pioneiro e inspirador para que outros times fossem sendo criados. Poucos foram em 1980 os que lhe deram ouvidos, ele tanto acreditou que a modalidade pode ser levada a transformar Araraquara na “Capital do Futebol Feminino Brasileiro”, por sugestão do prefeito Edinho Silva que busca reverenciar a memória do esportista.

Um dia antes da estreia da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de Futebol Feminino na Austrália e Nova Zelândia, por alguns segundos suas lembranças devem palpitar nas saudades que ficaram sobre quatro rodas: o Fordinho 29, sangrando a Rua Nove de Julho no dia 28 de julho, domingo, levando na carroceria cerca de 20 mulheres predestinadas a fazer história como pioneiras em uma modalidade esportiva.

AQUILO QUE EM SEGUNDO, SEMPRE SERÁ O PRIMEIRO

Cibele e Fábio, filho de Segundo Zachi, o Mazzaropi, em abril de 2015, recordando as proezas do pai

Zachi era grande fã de Amácio Mazzaropi, ator de filmes de comédia nas décadas de 30 a 50, criador do personagem Jeca Tatu. Foi daí que Zachi encarnou o personagem pelos lugares que passava, expressando a alegria aos clientes dos estabelecimentos.

Em 1976, chegou em Araraquara trabalhando como transportador de óleo e dois anos depois decidiu montar a borracharia. Mexia com qualquer veículo, desde carros a tratores. Daí surgiu o nome Borracharia do Mazzaropi e sempre na Avenida Pedro Aranha do Amaral, próximo a Via Expressa. Além da borracharia, Mazzaropi tinha o costume de participar dos desfiles na cidade, principalmente dos cívicos, sempre acompanhado de seu caminhão F4000 com um toldo.

Na década de 80, Mazzaropi surpreenderia a todos com a criação do Mazzaropi Esporte Clube, um time só de mulheres. Em 1985, ele montou também o time masculino. Para ele, não havia desigualdade. Até a minha mãe (dona Ana), jogou pelo time, como beque central”, recorda Fábio Zachi, que segue com os negócios deixados pelo pai. Só o futebol que não.

Mazzaropi levava os times para as fazendas em seu pequeno Fordinho e tudo por sua conta, exagerava nos gastos para fazer nascer e se firmar a modalidade. Durante o caminho os atletas jogavam truco e garantiam boas risadas antes das partidas. “Quando o time estava perdendo, meu pai ficava muito bravo e despejava toda a sua raiva no árbitro. Teve um dia que ele partiu pra cima de um juiz e eu fui junto (risos)”.

O pioneiro no futebol feminino de Araraquara, anos mais tarde inspiração para a Ferroviária até mesmo no exterior

O futebol feminino do MEC durou até 1992. Já equipe masculina foi até 2004, ano em que Fábio conheceu Cibele, sua esposa. Hoje, os dois tomam conta da Auto Center Mazzaropi. “Até mês atrás, o meu pai ficava aqui na oficina comigo. Não arredava o pé. Foi um cara fantástico e sempre brincalhão. Já me livrou de multa por imitar o Mazzaropi para o policial. Foi uma pessoa querida na cidade”, relembrou o filho alguns dias após a morte.

Mazzaropi faleceu aos 86 anos no dia 19 de março de 2015, deixando quatro filhos e um grande legado em nossa cidade e região, de revolução esportiva e de grande alegria.