Home Destaques

Sincomercio analisa dados de endividamento e inadimplência da população

Para este ano, a taxa de desemprego em queda e o número de pessoas empregadas acima do nível observado antes da pandemia são sinais positivos para a estabilização dos números.

29
Porcentagem das famílias que estão com contas em atraso é de 23%

O endividamento e a inadimplência da população apresentaram crescimento expressivo nos últimos anos, principalmente a partir da pandemia de Covid-19, na que afetou diretamente a condição financeira geral da população brasileira. Para avaliar o atual cenário de dívidas e os impactos no consumo do pós-pandemia, o Núcleo de Economia do Sincomercio Araraquara analisou as Pesquisas de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).

Utilizando ainda dados da Pesquisa Mensal de Preços da Cesta Básica, do próprio Núcleo, o levantamento fornece ao setor empresarial de Araraquara um diagnóstico geral sobre o nível de endividamento e inadimplência no país, auxiliando na percepção dos riscos e vantagens durante o processo de concessão de crédito.

De acordo com a análise, para este ano, a taxa de desemprego em queda e o número de pessoas empregadas acima do nível observado antes da pandemia são sinais positivos. Mas, o impacto da inflação sobre a renda vem sendo sentido pela população e, além disso, o aumento das taxas de juros também eleva a dificuldade de reequilibrar as contas e quitar os compromissos financeiros.

Diante disso, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) da Confederação Nacional do Comércio (CNC), o percentual de famílias com dívidas a vencer segue estável no mês de maio, fechando pelo quarto mês consecutivo em 78,3%. Desse total, 18% consideram-se “muito endividadas”, maior percentual desde agosto de 2022. Essa estabilidade ocorre desde dezembro do ano passado, mas deve voltar a crescer em julho deste ano, conforme estimativa da CNC.

“Vale ressaltar que o termo ‘dívida’ corresponde a um compromisso financeiro entre indivíduos ou com uma instituição financeira, esteja ele sendo pago em dia ou não. Ou seja, se o consumidor utiliza cartão de crédito, cheque especial, cheque pré-datado, crédito consignado, crédito pessoal, carnê de loja ou possui prestação de carro ou casa, ele se enquadra na situação de endividado”, explica Thais Gentile, pesquisadora do Núcelo de Economia.

Gráfico 1 – Percentual de famílias com dívidas (% do total BR)

ENDIVIDAMENTO DAS FAMÍLIAS

Em relação às famílias, de abril para maio, nos dois extremos de renda (de 0 a 3 salários-mínimos; mais de 10 salários-mínimos) houve queda da proporção de endividados, enquanto nas faixas de rendimento médio (de 3 a 10 salários-mínimos) a proporção de endividados aumentou. Na comparação anual, no entanto, o endividamento cresceu em todos os grupos.

Tabela 1 – Famílias endividadas (faixas de renda) – Brasil

No mesmo tema, a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) da FecomercioSP apresentou cenário semelhante, e os dados da capital paulista também se mantiveram estáveis no mês de maio. O percentual de famílias endividadas representou 73,1% do total de famílias. Esse número é 0,2% maior em relação ao mês anterior, e 2% menor em relação a um ano atrás, em maio de 2022.

Ambas as pesquisas destacaram o cartão de crédito como a maior modalidade de endividamento das famílias. De acordo com o levantamento da CNC, entre os consumidores do país, 87,2% chegaram em maio endividados pelo cartão de crédito, o maior volume em um ano. Essa proporção é ainda mais alta entre as famílias com mais de 10 salários-mínimos (88,1%). Nas famílias com rendas média e baixa, os endividados no cartão representaram 87,1%.

Semelhantemente no munícipio de São Paulo, a maior dívida foi com o cartão de crédito, representando 84,5%, seguido de dívidas com carnês (13,4%), crédito pessoal (11,7%), financiamento de carro (10,6%) e financiamento de casa (10,2%).

Tabela 2 – Dívidas por modalidade (Rendas das famílias) FecomercioSP maio de 2023

DÍVIDAS EM ATRASO E INADIMPLÊNCIA DO CONSUMIDOR

Diferentemente do endividamento, a situação de inadimplência compreende a parcela dos consumidores de possuem obrigações em curso, mas não conseguem cumpri-las, geralmente no período de até noventa dias. Nesses casos, uma das consequências é ter o nome incluso em cadastros de restrição de crédito, passando a ter o popularmente conhecido “nome sujo”.

De acordo com a pesquisa da CNC, que traz os dados do Brasil, o percentual de famílias que possuem contas em atraso se manteve constante em maio, com 29,1%. Na relação ao ano, comparado com maio de 2022, as contas em atraso cresceram 1,39%. Dentre as famílias, 11,2% não terão condições de pagar sua dívida, apresentando crescimento de 0,2% em relação ao mês anterior.

Quanto ao volume de famílias com dívidas atrasadas por mais tempo, esse número segue aumentando. A cada cinco famílias, uma mostra indicação que não conseguirá pagar uma dívida que já está em atraso. Do total de inadimplentes, 45,7% estão com atrasos por mais de três meses, o maior percentual em três anos. Na mesma tendência, o volume de consumidores com atrasos por mais de noventa dias segue aumentando.

Dentro das faixas de renda, as dívidas em atraso apresentaram crescimento maior entre os consumidores de renda média: para as famílias com renda de 3 a 5 salários-mínimos o crescimento foi de 1,9 p.p., e para as famílias com renda de 5 a 10 salários mínimo o crescimento foi de 2,1p.p. Esse último grupo também foi o que mais cresceu em relação a não honrar suas dívidas de meses anteriores, com 2 p.p.

Gráfico 2 – Percentual de inadimplentes com dívidas atrasadas por mais de 90 dias de acordo com a renda.

No geral, 5 em cada 10 inadimplentes com renda até 10 salários-mínimos atrasaram uma dívida por mais de 90 dias em maio (48,2%). Já entre os consumidores que recebem mais de 10 salários mínimos, essa proporção foi de 3 em cada 10 consumidores. Entre os inadimplentes, por mais de 90 dias, a maioria são mulheres (45,7%), pessoas com mais de 35 anos (46,7%) e com o ensino médio incompleto (46,3%).

Em São Paulo, de acordo com a PEIC da Fecomércio SP, a porcentagem das famílias que estão com contas em atraso é de 23%, número 0,3% maior em relação ao mês anterior e 6,3% menor do que o ano passado, em maio de 2022. Já em relação as famílias que não terão condições de pagar suas dívidas o número registrado foi de 9,8%, resultado maior em relação ao mês anterior (2,6%) e 1% maior em relação a um ano.

Na diferenciação por renda, 27,7% das famílias paulistanas que ganham até 10 salários mínimos estão com contas em atraso e 13% não terão condições de pagar. Esses resultados são menores para as famílias que ganham mais de 10 salários mínimo, com 10,6% com contas em atraso e 3,2% sem condições de pagar a dívida.

“O perfil de aceleração da inadimplência entre os consumidores apenas de renda média é resultado da assistência às famílias de renda mais baixa por parte do governo. Os programas de redistribuição de renda, como o Bolsa Família, retornaram com valores maiores e com mais famílias beneficiadas. Além disso, estamos em um cenário de retomada das contratações formais de pessoas com um nível menor de escolaridade, que ajuda no pagamento de dívidas das famílias dessa faixa. Além de serem o principal focos das renegociações”, avalia Thais Gentile, pesquisadora do Núcelo de Economia do Sincomercio Araraquara.

(Acesse o estudo completo aqui)

Fonte: CNC. Elaboração: Sincomercio Araraquara