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História: o mundo da Família Bergamo construído em terra estranha

A bonita história de imigrantes italianos que se aventuraram em terras estranhas e acabaram construindo suas vidas com muito sacrifício.

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Secondiano ao lado de Rosa, sua segunda esposa e com ela teve 15 filhos

Quando o vapor Las Palmas procedente de Gênova (Itália), ancorou no Porto de Santos no dia 5 de agosto de 1892, com o casal LuigiaNatale Bergamo a bordo, também estavam os filhos Gerólamo, Maria, Donato, Secondiano e Antonio. A esperança saltava nos olhos de todos e eles sentiam que o mundo poderia lhes sorrir, bem melhor do que na Itália que ficara para trás.

Natale, o patriarca da família Bergamo, tinha então 45 anos e a esposa Luigia, 44. O filho mais velho, Gerólamo, 16 anos, no desembarque ajudava o pai a carregar os sonhos nas poucas malas  de couro surrado, agora em direção ao Memorial do Imigrante, em São Paulo. De lá a família foi encaminhada para um vilarejo chamado “Tatú”, mais tarde Tatuí, próspera cidade na confluência das bacias dos rios Sorocaba e Tatuuvú (hoje Bairro do Barreiro). Um ano depois, os Bergamo’s se encontravam em uma fazenda no município de Rincão, trabalhando na cultura do café.

Em 1894, Natale levou a família para trabalhar em uma lavoura em Tatuí; passado algum tempo todos estavam em Tietê e ele trabalhando no desmatamento de uma fazenda. Natale foi acompanhando o crescimento dos filhos no campo. A esta altura, o filho mais velho, Gerólamo, estava com quase 20 anos, era final do século. Donato e Secondiano também ajudavam o pai.

Dorival e Ignez, casamento realizado em Iracemapolis em 1955

Secondiano, com pouco mais de 18 anos, havia conhecido Albina e com ela se casou para ter ao longo de 19 anos de relacionamento 10 filhos, dos quais 4 morrem pela deficiência na assistência médica da época. Albina também morre por volta de 1925, deixando os filhos Lídia, Artur, Antonia, Alfredo, Florindo, Júlio e Auta. Secondiano vai então trabalhar com o usineiro Constante Ometto, em Iracemapolis (pertencia a Piracicaba), cerca de 100 km de Tatuí. A esta altura, ele com 40 anos, tinha uma profissão definida, toneleiro em um engenho dos Ometto e casa-se novamente, agora com a viúva Rosa Bizan, de 19 anos que vai cuidar dos seis filhos, além de uma filha que ela possuía com um colono chamado Luís. A criança se chamava Luísa. Ao todo então são 7 filhos.

Neste período, Natale vai para São Paulo com os filhos Gerólamo, Maria, Donato e Antonio. Apenas Secondiano ficou e alguns meses depois, deixa Iracemapolis para vir trabalhar na Fazenda Marilú, de Augusto Transdorff (1941). Interessado na venda da propriedade, Secondiano pede prioridade e recorre ao antigo patrão e amigo Constante Ometto que lhe empresta parte do dinheiro para fechar o negócio. Plantando cana e produzindo cachaça, ele atendia aos trabalhadores da Usina Tamoio, causando desconforto ao usineiro Hélio Morganti que decide lhe fazer uma proposta e compra a Marilú, agregando-a à refinadora.

A esta altura na Fazenda Marilú estão os filhos do primeiro casamento e os que nasceram em Iracemapolis: José, Aurora, Dorival, Segundiano, Lairton e Valdomiro, mais Orlando, Nelson, Luís e Pedro nascidos na Marilú.

Com o dinheiro da venda da Marilú, Secondiano compra os 105 alqueires da Fazenda Americana e ali nascem os filhos Maria e Luísa que são gêmeas, Alcides e Iracema.Quando do nascimento da última filha, Iracema, já haviam falecido 15 filhos.

Nesta casa a segunda geração dos Bergamo’s foi criada

A DIVISÃO DAS TERRAS

Nove anos depois de ter comprado a fazenda se passam; era 1956 e Secondiano inicia a divisão das terras, primeiro com os filhos do casamento com Albina (1906). Para cada um destina 5 alqueires e sobram 55 alqueires que a partir de 1970, serão destinados aos filhos que teve com Rosa, frutos do segundo casamento.

 Nesta divisão, as filhas receberam sua parte em dinheiro e para os filhos foram dados 5 alqueires cada. Secondiano arrendou a parte que lhe sobrou – 20 alqueires – para o filho Dorival explorar, fazendo um contrato por 6 anos. Neste meio tempo com o falecimento do pai, Dorival esperou o final do contrato para nova divisão, agora correspondente aos 20 alqueires do pai Secondiano. No rateio, Dorival hoje possui 12 alqueires, onde está a sede da Fazenda Americana, sendo 9 alqueires de cana, mais o pasto e a plantação de mil pés de café.

Atualmente com 83 anos de idade e o único filho vivo, ele relembra com saudades o legado deixado pelo pai que teve uma vida extremamente difícil, porém, com ativa participação no desenvolvimento da agricultura na região. Um dos fatos marcantes, segundo ele, foi sua participação na fundação da Associação dos Fornecedores de Cana de Araraquara, em 1952. Secondiano fez parte da primeira diretoria, período de 1952/1954, como membro do Conselho Fiscal. A partir daí o vínculo da Família Bergamo foi crescendo e justamente Dorival, que possuía um relacionamento mais amplo com o campo, passou a substituir o patriarca.

Por 22 anos, lembra Dorival, me mantive como um dos responsáveis ao lado de Edgard Iost, pelo Ambulatório da Associação dos Fornecedores de Cana, onde também fui diretor em diversos cargos. Da mesma forma essa convivência ocorreu com o Sindicato Rural, sempre de forma participativa. Recentemente, Dorival Bergamo assumiu o cargo de vogal no Conselho de Administração da Credicentro, cooperativa destinada a dar orientação e assistência financeira aos produtores rurais.

Dorival e Ignez, 63 anos depois

HOMENAGEM

Dorival Bergamo é o que dá sequência ao espírito pioneiro do avô Natale e do pai Secondiano, além dos quatro tios que desembarcaram em 1892 no Porto de Santos. Dorival é casado com Ignez Castellari Bergamo, há 63 anos. O casal não tem filhos, porém, uma afetividade familiar que mostra a importância do trabalho em três gerações.

Por ser considerado um brilhante produtor de cana, Dorival Bergamo recebe esta homenagem da Canasol e do Sindicato Rural de Araraquara, como reconhecimento ao seu trabalho em prol da classe. Uma história que só merece elogios.