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O talento de Sérgio Eduardo de Carvalho Costa, o “Lagartixa”

Poeta e escritor, antes disso tudo o compositor e cantor, o seresteiro das madrugadas e finalista da Grande Chance, programa de Flávio Cavalcante na antiga TV Tupi do Rio de Janeiro. Talento que atravessou o tempo, “Lagartixa” prepara um novo CD.

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Lagartixa em nossa redação mostrando suas composições

Expressar um sentimento em frases ou poesia é magnifico. Mas, imagina sob um som de violão, de um coral, de uma banda, junto com um ritmo que traga uma harmonia para nosso corpo e alma? Música é o que alimenta toda essa paixão, domina o ser, esplandece o nosso dia, indo para o trabalho de carro, bicicleta ou a pé, com a sonoridade que vai pra dentro antes de começar mais uma rotina, apenas para trazer a paz que está habitada em nós, mas escondida. A música liberta isso.

Cantando no Palacete das Rosas, durante uma homenagem

E se não fossem os compositores, essa paixão não estaria perpetuada, ninguém iria encontra-la. Um dos mais fluentes e importantes compositores do nosso país foi o carioca Heitor Villa-Lobos. Suas obras foram importantes para formar o conceito sobre o nacionalismo musical e, ao mesmo tempo, representou a música brasileira em diversos países. Outros que formam um seleto grupo de compositores das terras tupiniquim são Chico Buarque, Gonzaguinha, Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Paulinho da Viola, Nelson Cavaquinho, Geraldo Pereira, Alceu Valença, Cartola, Noel Rosa, Ivan Lins, João Gilberto, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Lenine, Chico Science, Cazuza, Raul Seixas e por aí vai.

Araraquara tem também os seus compositores de respeito, que reverenciamos com muito carinho. Um deles é Sérgio Eduardo de Carvalho Costa, o popular Lagartixa, ou simplesmente Tixa. Nasceu no ano de 1947, uma época áurea de nossa música, ao meio de “Copacabana” (João de Barro), “Brasileirinho” (Waldir Azevendo), “Mulher” (Custódio Mesquita, interpretada por Silvio Caldas), “Atire a Primeira Pedra” (Ataulfo Alves) e tantos outros que poderia escrever páginas e páginas citando-os.

Homenageado pela Academia Araraquarense de Letras, aparecendo ao lado de Coca Ferraz e João Ultramari

O olhar com a música começou aos 17 anos, ao ir aos ensaios do Coral Araraquarense acompanhado de sua mãe, Lucilla de Carvalho Costa, e de sua tia, Ana Eunice de Carvalho Guedes. “As irmãs Dorsas (Yolanda, Idalina e Marisa) eram amigas da minha mãe e também cantoras. Eu acompanhava os ensaios do coral e a partir dali começou a se desenvolver um gosto pela música”, relata Tixa.

A família não apoiava as aventuras do, até então, garoto no mundo da música. Mas, graças a Valfrides Brandão, gerente do extinto Banco Bandeirantes, que ficava na Av. Dom Pedro II, a sua vida tomaria outro rumo. “Ele morava em frente da minha casa e foi ele quem me ensinou os primeiros dedilhados no violão. Segundo Valdrides, eu tinha muita facilidade em tocar e compor. Isso ajudou muito”.

Em 1967, aconteceu o Festival Araraquarense da Canção (FAC) no IEBA (hoje EEBA). Tixa compôs diversas músicas para concorrer o prêmio de melhor música. Entre os concorrentes estavam José Roberto Telarolli, Paulo Ferrante e Didinho (da Chalu). Além deles, outros músicos do interior do estado estiveram presentes no festival araraquarense pela tamanha repercussão e grandiosidade.

Reunião familiar para gravação do clip “Rock Cidade”, do irmão Luís F. Carvalho

“Para aquele festival eu compus a canção “A Tela”. O grupo, formado pela minha família, que tinha Marisia (tia), Leda Maria Gatas e Mário Sérgio de Carvalho (primos), além de outros, cantaram comigo a composição”. Para um primeiro festival, até que Tixa se saiu bem. Ficou na segunda colocação, perdendo para a canção “Viola”, de Marinho Galera. Depois, o araraquarense participou de outros festivais em Franca, Registro, Campinas e São Paulo.Teve grande influência também de autores mais modernos como Chico Buarque, Tom Jobim, Osvaldo Montenegro, Taiguara, Luís Vieira, Sidney Muller, Edu Lobo e tantos outros monstros da música brasileira.

“Hoje eu ouço mais o Yamandú Costa, que, pra mim, atualmente, é um dos grandes músicos e compositores do país. Ele passa por estilos polkas, jazz, tango, samba de gafieira e tantos outros ritmos que o som me agrada muito”. E, claro, ele não deixou de lado os músicos de Araraquara pelos quais admira e gosta muito de ouví-los. “A nossa cidade tem Pedro e Paulo Martelli como excelentes violonistas. Um grupo que eu gosto bastante também é Os Seresteiros que, pra mim, poderia ser comparado a um MPB4, por exemplo. Tem muita força e qualidade sonora”.

Porém, a música sofreu mudanças com o passar do tempo. Hoje, a essência é praticamente tirada do passado até por causa da fase que em se encontra a música brasileira. “A música de hoje foge um pouco do meu estilo, não por preconceito, mas por eu admirar o que é belo. Na década de 60 ou 70, ou até mesmo 80, as músicas nacionais eram mais ricas em melodia e letra. Diziam mais. A música é a que te toca, envolve. A letra tem que falar alguma coisa. Eu acredito que um dia isso possa voltar. Tudo se transforma. Se o bom se transformou nisso que está aí, ele ainda pode voltar”.

Atualmente, Tixa trabalha em novas composições voltadas em regiões do país e fará um novo CD, mas sem grandes investimentos. Nas músicas aparece o conhecido músico Carrapicho e o lançamento será no Sesc. Além disso, outros cantores já usaram de sua composição, entre eles, Dani & Danilo, com a música “Terra Molhada”, que conta sobre o Pantanal. Faz as suas idas e vindas em Campinas, o seu segundo lar, aonde costuma tocar em bares com os grandes amigos e se reúne, em Araraquara, na casa de amigos, onde fazem uma grande roda de música, além de muita poesia, apresentações teatrais e sapateados.

Confira agora, na integra, a letra de Lua Quebrada, uma das grandes composições feitas por Tixa:

LUA QUEBRADA


Letra e composição: Sérgio Eduardo de Carvalho Costa (Tixa)

Relampeou, fez vento forte a noite inteira
A chuva fina tá caindo no quintal
Se água molha o pé descalço da mangueira
É quase certo que lá vem o temporal,

Está tão perto tá chegando um temporal

Bico calado, pode ser um temporal

Lua quebrada hoje não pisa no céu

Nem tem brancas borboletas com asas de papel

Lua quebrada hoje não clareia o chão

Nem tem sol que seca e mata

A raiz da plantação

E o vento forte fustigou a passarada

E os galhos secos num balé de vai e vem

Foi tão grande a chuvarada que o caboclo

Decidiu dar duas lágrimas também

E a meninada da Janela de Maria

Viu a noite virar dia numa forma de oração

Chuva pesada que por sua conta e risco

Implorou pra São Francisco trazer água pro sertão

Pito de palha, fogão de lenha, carro de boi, levando leite de ordenha

Chuva de vento, com tempestade, molhando a terra e a poeira da saudade

Café bem forte, pão sobre a mesa, moça bonita com jeitinho de princesa

Venha comigo bem do meu lado, abraça e beija o teu caboclo apaixonado