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Dito Viviani, o comunicador de filmes nos anos dourados dos nossos cinemas

Inovador em serviços gráficos graças à sua criatividade publicitária, Benedicto Lázaro Viviani produzia pequenos folhetos anunciando os filmes em cartaz com uma semana de antecedência. A distribuição era feita pelos filhos na porta do Odeon, Paratodos, Plaza e Coral antes das sessões; “inventou” listas médicas e tabelas de bolso do Campeonato Paulista, tornando-se um comunicador de fato... e de direito.

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Torcendo pela Ferroviária na Fonte Luminosa, Dito Viviani passou a ser um torcedor símbolo

As lavouras de café no Brasil, no início da primeira República, estavam dando sinais de excesso de produção, mas os imigrantes não paravam de chegar. Era leva atrás de leva e assim no dia 5 de março de 1891 desembarcou, no porto de Santos (SP), o casal Ernesta e Biagio Viviani vindos de Gênova, Itália, com os filhos Ettore e Cesira. Após breve estadia na Hospedaria dos Imigrantes foram encaminhados para uma fazenda em São João da Boa Vista. Felizes no Brasil, o casal teve o primeiro filho brasileiro: Augusto Viviani, que nasceu em 5 de agosto de 1894.

Maria Urban veio da Espanha, filha de Gabriel Urban e Maria, na mocidade conheceu Augusto, paixão e casamento. Vieram os 10 filhos: Aparecida, Irene, Lourdes, Hilda, Benedita, Isaura, Maria José, Benedicto, Geraldo e Sebastião.

Dito prestando serviço militar nos anos 50

Benedicto Lázaro Viviani nasceu em Marília, em 21 de janeiro de 1930, mas foi registrado em Ribeirão Bonito aos 25 dias de dezembro de 1933. O pai Augusto dirigia a jardineira, na recém- inaugurada linha Araraquara-Guarapiranga-Ribeirão Bonito em 1939, pertencente a Empresa Expressa Barbosa. Em 1940, os Viviani vieram morar em Araraquara, na Rua Nove de Julho, numa casa alugada próxima à Avenida XV de Novembro, a pedido do patrão de Augusto. Acometido de uma doença no estômago, Augusto veio a falecer, em 7 de julho de 1940. Nem sequer completou um ano de moradia em Araraquara, deixando Maria Urban com 10 filhos e muitas dificuldades.

VENDENDO PAPEL E PAPELÃO

Benedicto, então com 11 anos começou a trabalhar recolhendo papel e papelão no comércio e os vendia à Gráfica Lia, instalada ao lado da Igreja Matriz, onde é o atual Gran Hotel Morada do Sol (antes Hotel Eldorado). Depois Benedicto comprava leite e pão na Padaria Palamone ajudando a mãe Maria. A gráfica dos irmãos Lia tinha mais de 200 empregados e chegou a concorrer com os Lupo. O pessoal da gráfica gostava do garoto e daí aprender o ofício de tipógrafo foi tudo o que Benedicto sonhava. A falta de estudo foi compensada pela prática precoce no trabalho. Em pouco tempo Benedicto se tornou um componidor ou gráfico, cuja atividade era juntar as letras umas às outras, formando palavras e (geralmente) pequenas frases, ajustadas entre si, a partir de uma medida previamente definida, formando linhas de uma determinada largura.

Panfleto entregue nos cinemas de Araraquara anunciando os filmes da próxima semana

Seu talento foi reconhecido pelo dono do Correio Popular, Lázaro Rocha Camargo, que o contratou. Assumindo a função de paginador, Benedicto comandava a gráfica do jornal que tinha os funcionários Geraldo Viviani, irmão que Dito encaminhou no ramo gráfico, José Ardana e Older Bergo, que anos depois passou a ser discotecário na Rádio Cultura, na Avenida Espanha.

Do jornal, Dito foi trabalhar na Gráfica Paratodos, a convite dos irmãos Almeida, e depois para a Sociedade Gráfica Araraquara Limitada, a SGAL, onde desenvolveu todo o seu potencial como gráfico e publicitário, sempre com o apoio do patrão e amigo Otávio Micelli.

DITO E ORAVIA

Dito, Tetê, Orávia, Rosane, Débora, Carlinhos e Mário Augusto

Benedicto se casou com Orávia do Carmo Zampieri, em 13 de junho de 1953. O namoro ia de encontro à vontade dos pais de Orávia, Mário Zampieri e Josephina Pongeluppe, prósperos comerciantes no largo da estação ferroviária.

Orávia queria uma cerimônia simples e marcaram com o padre José Hoiu o casamento para uma quarta-feira. Era dia de Santo Antônio e a igreja estava lotada para a surpresa da noiva.

Dito e Orávia, com o irmão Geraldo e os filhos Mário Augusto, Tetê, Rosane e Carlinhos

O jovem casal comprou um terreno na Vila Xavier e  os dois começaram a construir então uma casa na Avenida Carlos Batista Magalhães, para fugir do aluguel.

Benedicto trabalhava de dia e voltava à noite para fazer horas extras. Aos sábado, à noite, trabalhava no salão social do Clube 22 de Agosto como chapeleiro, guardando sombrinhas, guarda-chuvas e paletós do pessoal que frequentava os bailes. Bico esse arrumado pelo amigo Geraldo Barreto, o Panela, que era porteiro do clube.

Em Santos, Dito, Orávia, Mário Augusto, Tetê e Carlinhos

O casal teve seis filhos: Mário Augusto, Benedito Reginaldo (Tetê), Rosane, Luís Carlos, Débora Solange e Richard Gabriel.

DITO DA SGAL

Benedicto já era chamado como o “Dito da SGAl” e passou a oferecer aos amigos serviços de cartões de visitas e calendários. Visitava o comércio aos sábados de manhã, tirava os pedidos e caprichava na composição. Formou uma freguesia particular e mais tarde passou a vender folhinhas (calendários) de parede. Torcedor fanático da Ferroviária elaborava cartazes com os jogos da AFE na Fonte cercados de anúncios. Criava tabelas de bolso que eram disputadas pelos torcedores.

Lista com os serviços mais utilizados em Araraquara na época, dispensando a lista telefônica, uma criação de Viviani

Os clichês com piadas de fazer inveja a Ari Toledo era eu marketing pessoal de agradar e aumentar a freguesia.

Nos anos 1970 lançou uma folhinha com relação de todos os médicos de Araraquara no verso. A composição de linotipo era feita nas oficinas do jornal O Imparcial.

Dito conseguiu semear uma forte amizade com os funcionários da SGAL:  Miguel Basile, Dorival, Emílio ‘Borracha’, Chico, Luiz Japonês, Mineirinho e Joaquinzinho.

Para cada cinema na época um panfleto específico

Um folheto anunciando os filmes dos quatro cinemas da Empresa Roberto de Jesus Affonso Cinematográfica foi outra criação de Dito da SGAL. Interessado por cinema assistia todas as sessões e praticamente viveu à época de ouro dos cines Odeon, Paratodos, Plaza e Coral e mais tarde continuou divulgando os cinemas Veneza e Capri. Os filhos Tetê, Mário e Richard ficavam nas portas dos cinemas entregando os folhetos. Dito tinha fiéis anunciantes e os folhetos eram lidos exaustivamente na espera do início dos filmes e colecionados por muitos espectadores.

A “folhinha dos médicos” foi um sucesso de vendas entre os donos de farmácias e continua até os dias atuais, editada e impressa pela Gráfica Esperança.

OS IRMÃOS DO DITO

Orgulhoso de seu passado de trabalho, Dito ficava contente com o destino de seus familiares. Aparecida que se casou com Francisco Ardana, ferroviário em São Carlos; Irene Viviani com Atílio Badesso, carpinteiro em Santos; Maria de Lourdes com Osvaldo Nogueira, fiscal de rendas em Santos; Hilda com Álvaro Fleury Fina, agrônomo da Casa da Lavoura; Benedita com José Porteiro, de São Paulo. Isaura e Maria José, solteiras; Geraldo, gráfico e policial, com Marina Fraga; e Sebastião, que é gráfico também.

OS FILHOS DE DITO E ORÁVIA

Orávia e Dito em casamento de família amiga

O casal que começou do zero vibrava com os filhos estudando e trabalhando. Mário Augusto é funcionário público federal de Furnas e no momento trabalha em Itabirito (MG) e tem cinco filhos: Mário Augusto Júnior, Maíra, Maiara, Marcelo e Carol. Benedito Reginaldo Viviani, o Tetê, é fotógrafo e proprietário do Foto Viviani, formado em Direito e Jornalismo, tem um filho com Elisa Sakai, o Raul Viviani. Rosane é casada com Edson Bezerra, o casal toca o restaurante e o supermercado Chambom e têm três filhos: Karina, André e Juliana. Luís Carlos trabalhou na Fábrica Lupo e Indústrias Nigro, faleceu com 41 anos e teve uma filha, Luciana. Débora Solange é assistente social e coordenadora do Projeto Reintegra Brasil e mãe do Danilo Serafin. Richard Gabriel é professor universitário formado em Geografia e Jornalismo. (Atualizando: Mário Augusto ainda teve mais uma filha, a Mariana Sofia, e faleceu aos 57 anos, em 2011, na cidade de Goiânia GO).

Dito com a sogra Josephina Pongelluppi Zampieri

PARTIDAS

Benedicto Lázaro Viviani foi acometido de forte depressão devido ao fechamento da Gráfica SGAL, passou por tratamento psiquiátrico e faleceu de maneira trágica nas águas da represa do Parque Pinheirinho, em 30 de dezembro de 1988, aos 55 anos de idade. Orávia do Carmo faleceu no Hospital Santa Casa de Misericórdia, aos 63 anos, em 31 de maio de 1998, devido a complicações causadas pelo diabetes e hipertensão. Ambos estão sepultados no cemitério São Bento.

Dito no batizado da neta Luciana

Seu nome está na rua através da Lei nº45/91, de autoria do saudoso vereador Darcy Moralles, que denomina Rua Benedicto Lázaro Viviani, a Rua “4” do Loteamento Rural Cociza, que tem início na Rua Engenheiro Fernando Augusto Sampaio e término na rua 3, do mesmo loteamento Cociza, atrás da Fábrica Meias Lupo, próximo a rodovia Washington Luís. (Colaborou Tetê Viviani, seu filho).