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Brasil perde posições em ranking que relaciona prosperidade à competitividade

Por Michel Abdo Alaby

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A Insead Executive Education – IMD –, de Lausanne, na Suíça, é uma das mais conceituadas escolas de Administração do Mundo, e publica um Anuário de Competitividade Mundial que é uma referência para investidores do mundo inteiro que avaliam onde alocar seus recursos, e que serve como uma “fotografia” da situação econômica de 64 países com base em diferentes fatores.

E a má notícia é que o Brasil, apesar de ser a 12ª economia do mundo, e a maior da América Latina, já não tinha uma posição invejável nesse ranking, mas caiu ainda mais. Entre os 64 países listados, o Brasil piorou em relação ao ano anterior, e está em 57º lugar.

O ranking geral é feito somando os pesos de quesitos específicos, como desempenho econômico, competitividade, governança e imagem do país. E pioramos em todos eles.

Por que esse ranking é importante?

O ranking coloca a prosperidade como uma consequência da competitividade, e é baseado em 334 critérios, tanto subjetivos, como a opinião de executivos renomados, quanto objetivos, como números e estatísticas, sendo que os critérios objetivos têm um peso maior.

Certos setores criticam rankings como esse por considerarem que eles são simplesmente uma lista de países que seriam mais “bonzinhos com os ricos”, atraindo recursos ao abrir mão de tributação ou da capacidade de controle da entrada e saída de capital.

Mas é importante notar que da mesma maneira que qualquer pessoa teria um justificado receio em investir suas economias em empresas ou instituições financeiras que estejam mal das pernas, arriscando-se a ter prejuízos por serem mal administradas, o mesmo vale para países. Quanto maior o risco percebido, mais difícil fica atrair investidores, que exigem um retorno maior e mais rápido como um prêmio que compense o perigo.

Enquanto o Brasil não mudar essa situação, continuará sendo um país em que os investimentos acontecem como negócios de ocasião, não como um lugar onde empresas e investidores se planejam para o longo prazo.

Por que o Brasil perdeu posições no ranking de competitividade?

– Governança pública: O Brasil nunca foi considerado exemplar na governança pública, mas não podemos considerar diferente de estarrecedor e constrangedor estarmos na 62ª posição neste quesito, à frente apenas da Argentina e da Venezuela, países que, com o devido respeito, são tidos como exemplos do que não se deve fazer em matéria de política econômica e transparência da gestão das contas públicas.

Entretanto, a posição é explicada no próprio desempenho em termos de gastos do governo, além do elevado grau de endividamento público.

A percepção dos executivos aponta problemas no combate à corrupção, demonstrada por retrocessos na Operação Lava Jato, falta de confiança no governo, crescente violência urbana, desigualdade social e persistente má distribuição de renda.

– Coesão Social: A coesão social é um critério que mede o quanto o tecido social brasileiro é estável, sem possibilidades de agitações sociais que possam levar a abalos políticos e consequentemente econômicos. O Brasil caiu do 52º para o 60º lugar, principalmente pela percepção em relação à justiça ser, ou não, aplicada de uma forma justa.

– Imagem do país: Como o Brasil é percebido no exterior é um quesito que carrega um grau alto de subjetividade de quem avalia, mas nossa imagem, ou a marca do país, se preferir, vem se deteriorando desde 2019, sendo que nesse quesito, ocupamos a 61a posição, à frente apenas de países como a Turquia, Argentina e Venezuela.

A Marca Brasil vem perdendo valor no exterior, na percepção dos executivos, por questões de uma certa fraqueza institucional, enorme burocracia, corrupção, falta de transparência, desmatamento e preocupação com o estado de direito.

– Desempenho econômico: Em relação ao desempenho econômico, a queda do Brasil no ranking foi ainda mais expressiva. Do 51o lugar em 2020, caímos para 56º em 2021. E a covid-19 não é uma desculpa para isso, porque ela atingiu todos os países do mundo.

Quais países estão nas melhores posições do ranking e por quê?

As economias mais competitivas são Suíça, Dinamarca, Holanda e Cingapura, em função dos investimentos em inovação, atividades diversificadas, coesão social, investimentos em educação e políticas de apoio governamental.

Maiores economias do mundo, Estados Unidos e China também estão bem ranqueados, com os EUA na 10a posição e a China evoluindo da 20a para a 16a posição.

Os países da Ásia Oriental e Central, assim como da Europa no geral melhoraram suas posições no ranking.

Como melhorar a situação brasileira no ranking?

Para a melhoria da posição brasileira é necessário que se realizem as reformas administrativa, tributária, privatizações, maior abertura comercial e maior liberdade econômica. Não podemos nos esquecer da proteção ao meio ambiente, uma melhor governança corporativa e a melhor distribuição de renda.

Cabe lembrar que nenhuma dessas conclusões é exatamente uma novidade. É preciso ação, para que as ideias se materializem em avanços perceptíveis. Mas sabemos, também, que em um sistema democrático, é necessário seguir os trâmites institucionais, que têm sua própria velocidade. Do contrário, a busca por melhoras reais pode trazer prejuízos imprevisíveis. E incalculáveis.

Mas a economia brasileira já mostrou no passado uma vitalidade incrível. A simples demonstração de que estamos no caminho certo já teria um efeito positivo muito mais rápido do que se imagina.

Fica a dica para reflexão.

*Michel Abdo Alaby, é Consultor de Comércio Exterior da Associação Comercial de São Paulo

**As opiniões expressas em artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores e não coincidem, necessariamente, com as do RCIARARAQUARA.COM.BR