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Dia do Professor, reflexão apenas, quando não se tem muito para comemorar.

Por Ivan Roberto Peroni

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O professor é hoje, sem dúvida, um dos profissionais mais importantes para a formação de cidadãos de bens à sociedade, porém, mesmo se tratando de um profissional essencial e eficiente, o nosso país tem o péssimo hábito de praticar a sua desvalorização através de condições de trabalho ruins incluindo remunerações mais baixas do que outras profissões que a princípio não agregam tanto valor, mudança e eficiência para a sociedade como a do professor.

Mas a vida me faz lembrar de pelo menos duas situações neste Dia do Professor. Uma delas, ainda nos meus 7 anos, quando comecei ir à escola na cidade de Jales e para onde os meus pais se mudaram com aquela febre da Alta Araraquarense, movida pela Estrada de Ferro de Araraquara. Lá era de fato e de direito o final da linha do trem, nas margens do Rio Grande. Tempos difíceis, é verdade.

Uma semana depois das aulas terem começado no Grupo Escolar em Jales eu disse para minha mãe que não ia mais para a escola porque já sabia tudo que a professora estava ensinando. Finquei os pés no chão e insisti que não ia. Pra que e porquê! No fundo da nossa casa tinha um cafezal; minha mãe foi até o primeiro pé de café, pegou um dos galhos, caprichou numa varinha e me guiou até a escola. Foram os dois quilômetros mais significativos da minha vida, mas também os mais vergonhosos, os mais corretos, os mais importantes, os mais judiados. Ela fez o que os pais não fazem, hoje em dia.

O medo daquela vara de café me fez o primeiro aluno da classe no final do ano de 1956 e recebi da professora, dona Terezinha – um livro que até hoje também não esqueço: “O Gato de Botas”, simbolizado por um belo gato de chapéu, roupa de primeiro mundo para a época e um par de botas que fazia ele parecer um dos três mosqueteiros. Era um livro escrito por um historiador francês.

Uma outra situação é do meu segundo ano, passado em uma escola rural de Tabatinga, na fazenda do meu avô. Meus pais haviam deixado Jales e tinham vindo para cá. Minha professora era fantástica. Dava aula em uma única classe para quatro turmas: primeiro, segundo, terceiro e quarto anos ao mesmo tempo, divididas por quatro fileiras de carteiras. Igual ao que é hoje, cantávamos antes de entrar na classe – o Hino Nacional Brasileiro e a música Luar do Sertão (Não há oh gente oh não, luar como esse no sertão…).

Com o passar dos anos depois entendi então, a razão do Luar do Sertão: era mostrar ao sertanejo a importância de se valorizar as raízes e manter o homem no campo. Um marketing que me fez compreender, antecipar e mostrar o que é o agronegócio na atualidade.

Mas nem tudo são flores na vida de um professor; as dificuldades que enfrenta e a transformação comportamental dos seres humanos; a violência infantil e a agressividade que aumenta para ensinar o que as crianças não querem aprender, movidas pela tecnologia, esculhambando com os princípios éticos e morais.

Mas, reconhecer o trabalho do professor é dever nosso, obrigação nossa; maior ainda é lhe dar condições de trabalho, salário justo pelo preparo dos futuros governantes, esses que deveriam cuidar da nossa velhice. Parabéns aos queridos mestres.

*Ivan Roberto Peroni, jornalista e membro  da ABI, Associação Brasileira de Imprensa

**As opiniões expressas em artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores e não coincidem, necessariamente, com as do RCIARARAQUARA.COM.BR