Home Artigo

Meras coincidências históricas

Por Antonio Donizete de Oliveira

40

Como dizia o grande filósofo irlandês Edmund Burke, “Um povo que não conhece a sua história está fadado a repeti-la”. É nítido que a maioria do povo brasileiro não conhece profundamente seu passado, seja por negligência congênita ou por interesses políticos, mas o fato é que desconhecer a raiz de muitos males que assolam nosso pretérito causa um enorme prejuízo geração a geração.

É como assistir inerte ao mesmo pasquim de quinta categoria, onde a minoria se regozija ante ao sofrimento da grande massa. E pior, há elementos dentro desta massa que aplaudem fervorosamente o açoite que os sodomiza, como se vivessem submersos em uma eterna síndrome de Estocolmo.

O brasileiro dificilmente aprende com seus próprios erros, talvez o mais grave esteja em curso neste exato momento da história deste país, que é entregar a nossa liberdade numa bandeja de prata, de mão beijada, para deleite de tiranetes que se apoderaram de nossas instituições ao longo dos últimos anos.

Encontrar registros históricos que argumente contra essa pantomima acaba se tornando uma missão quase impossível e por esta ocasião busca-se o exemplo em outros povos que aprenderam, até aqui, a tirar lições valiosas de seus erros passados.

Para ilustrar bem o cenário que se desenha por aqui, vamos relembrar como o povo alemão, COINCIDENTEMENTE, também entregou sua liberdade para o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães.

Assim que o Partido chegou ao poder ao final da década de 20 e início da década de 30 do século passado, era consenso dentro da cúpula nacional-socialista que para manter seu projeto de poder em pé era necessário trabalhar incessantemente em dois importantes ministérios: da Propaganda, chefiado por Joseph Goebbels e o Ministério do Interior da Prússia, que englobava as forças de segurança alemã da época, liderado pelo número dois da hierarquia nacional-socialista, Hermann Goring.

Controlar o que se dizia e quem dizia e como dizia era tão fundamental quanto vigiar como dizia, quem dizia e o que se dizia. O aparato estatal de controle social era uma máquina muito bem azeitada, que caçava os opositores do governo de forma implacável, através de decisões monocráticas, prisões arbitrárias, multas altíssimas (quanta coincidência, não?!) até a execução sumária de toda voz oposta ao regime (COINCIDENTEMENTE a situação em terras tupiniquins não está muito longe deste último degrau).

O mais funcional órgão de repressão era formado pela Polícia secreta do Estado (a famigerada GESTAPO) que obedecia cegamente qualquer ordem imputada pelo comandante das forças policias germânica (nesta altura do campeonato chefiada por Heinrich Himmler) onde vasculhava cada gesto, cada palavra, cada passo daqueles que ousavam levantar a voz contra o governo do Fuhrer e sua corja.

Suas ações eram sempre acompanhadas de muito ódio e violência, que culminavam no dilaceramento cada vez mais acelerado da liberdade daquele povo.

O mais agravante nessa situação era ouvir cada vez mais alto o som das palmas da maioria dos alemães em concordância com aqueles atos, pois entendiam que só assim o Estado estava os “preservando” e consequentemente protegendo a democracia alemã.

Da mesma forma que o governo nacional-socialista levou a Alemanha à verdadeira ruína por uma questão ideológica, as ações contemporâneas dos poderes aqui no Brasil trilham o mesmo caminho.

A supressão da liberdade deveria ser algo que causasse repulsa e calafrios em qualquer cidadão meramente dotado do mínimo de sensatez, porém qualquer centelha que se mova contra este movimento é imediatamente sufocada pelos grilhões daqueles que juram salvaguardar as garantias de seu próprio povo.

A sanha pelo poder está tomando proporções cada vez maiores e a escalada parece não ter limites.

A Constituição é tratada como elemento decorativo e passível de mudanças conforme as rubras nuances determinam. É mais que necessário lutar por cada centímetro de liberdade antes que seja tarde demais. Derradeiramente, como Goebbels disse quando estava confinando em um bunker de Berlim ouvindo a chegada cada vez mais perto dos exércitos Aliados, “o povo alemão escolheu seu destino, e agora terão suas gargantas cortadas”.

Ainda há tempo de não termos o mesmo fim. Ainda há tempo de não sermos reféns de meras coincidências históricas

(*)Antonio Donizete de Oliveira é professor de português e inglês, formado em Letras pela Faculdade São Luís de Jaboticabal, pós-graduado em gestão escolar pela Universidade Barão de Mauá e escreve para o RCIA ARARAQUARA.

**As opiniões expressas em artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores e não coincidem, necessariamente, com as do RCIARARAQUARA.COM.BR